RELATO DE CASO: ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS DE MENINGIOMA FIBROSO EM CANINO

14/10/2022 23:57

Resumo

Meningiomas são os neoplasmas encefálicos mais comuns do sistema nervoso central em cães, porém o subtipo fibroso é incomum. Essa neoplasia pode ser dividido em subtipos histológicos, que são classificações utilizadas tanto em animais quanto nos seres humanos, são eles: meningotelial, fibroblástico, transicional, psamomatoso, papilar, microcístico, mixóide, angiomatoso e anaplásico. Esse neoplasma não tem predileção por sexo, mas tem predileção por idade, acomentendo geralmente animais com mais de 7 anos. Além disso, acomete com mais frequência cães da raça Golden retriever, Boxer, Schnauzer miniatura e sem raça definida. O objetivo deste relato é descrever o caso de um meningioma fibroso diagnosticado no Laboratório de Patologia Veterinária (LABOPAVE) em Curitibanos, Santa Catarina. O caso ocorreu em um canino, fêmea, com 5 anos de idade e sem raça definida. O animal começou a apresentar crises epilépticas, estrabismo e déficit no reflexo de ameaça no olho esquerdo, após isso foi a óbito e o cadáver foi encaminhado para necropsia no LABOPAVE. Ao realizar a necropsia foi evidenciado no encéfalo, no lobo piriforme direito, um nódulo rugoso  medindo 2,5 cm x 2,0 cm x 1,5 cm, na histopatologia foi observado meningioma com fibroblasto em redemoinhos ao redor de vasos, os fibroblastos com pleomorfismo moderado, apresentando núcleos variando de ovalado a fusiforme, eucromáticos com citoplasma fibrilar e levemente eosinofílico. O meningioma fibroso relatado é pouco descrito na literatura, visto que é raro. 

Palavras-chave: histopatológico, meningioma, necropsia, neurológico.

  1. Introdução 

Meningiomas são os neoplasmas encefálicos mais comuns do sistema nervoso central em cães (Chaves et al., 2016). A origem mais comum da neoplasia é na aracnóide, porém pode originar-se de qualquer uma das três meninges. O meningioma pode ser dividido em subtipos histológicos, que são classificações utilizadas tanto em animais quanto nos seres humanos, são eles: meningotelial, fibroblástico, transicional, psamomatoso, papilar, microcístico, mixóide, angiomatoso e anaplásico. Não há predileção por sexo, porém há predileção racial, sendo o Golden retriever, Boxer, Schnauzer miniatura e sem raça definidas acometidos com mais frequência. Geralmente são tumores únicos e desenvolvem-se em cães acima de 7 anos de idade.

Os sinais neurológicos vão depender da localização, tamanho e taxa de crescimento do tumor, sendo mais comum convulsões focais ou generalizadas, síndrome vestibular, cegueira, dor em região cervical, anisocoria, tremores de cabeça e regurgitação (Pereira et al., 2018).

O diagnóstico definitivo é realizado apenas através de exame histopatológico e classificação histológica, material oriundo de necropsia ou biopsia. A ressonância magnética e a tomografia computadorizada  permitem a análise do parênquima encefálico e medular, porém não possibilitam a distinção do tipo do tumor devido a padrões muito semelhantes apresentados entre as neoplasias (Marcasso et al., 2015).

A combinação de exérese cirúrgica e radioterapia é relatada como o tratamento mais efetivo, porém nem sempre é possível porque são poucos os centros veterinários que dispõem de radioterapia (Conti et al., 2010). A utilização de quimioterápicos para tratamento de neoplasias intracranianas é ineficaz, devido à limitada penetração pela barreira hematoencefálica e baixa sensibilidade das neoplasias intracranianas aos agentes quimioterápicos. Pode-se realizar tratamento paliativo com corticoides e anticonvulsivantes para diminuir os sinais clínicos, no entanto o prognóstico é desfavorável a longo prazo (Chaves et al., 2016).

 

  • Metodologia

 

Realizou-se uma necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) campus Curitibanos. A necropsia foi realizada em canino, fêmea, com 5 anos e sem raça definida. O animal começou a apresentar crises epilépticas, foi tratado com levetiracetam por 14 dias, após isso, retornou com crises epilépticas novamente e no exame neurológico foi observado estrabismo e déficit no reflexo de ameaça no olho esquerdo. O paciente foi encaminhado para ressonância magnética, porém, antes de começar o exame, o animal apresentou rigidez nos membros e teve parada cardiorrespiratória que foi tentado reverter, mas o animal foi a óbito. O cadáver foi encaminhado para necropsia cosmética no LABOPAVE.

 

  • Resultados e Discussão

 

Durante a necropsia, foi possível evidenciar no encéfalo, no lobo piriforme direito, um nódulo rugoso medindo 2,5 cm x 2,0 cm x 1,5 cmm (imagem 1 e 2), que na análise histopatológica foi observado fibroblastos em redemoinhos ao redor de vasos ((imagem 3), os fibroblastos com pleomorfismo moderado, apresentando núcleos variando de ovalado a fusiforme, eucromáticos com citoplasma fibrilar e levemente eosinofílico (imagem 4), compatível com meningioma. Na periferia do tumor havia presença de focos de infiltrado linfocítico. No hipocampo, pedúnculo cerebelar e cerebelo havia vacuolização da substância branca e vasos repletos de hemácias (congestão). No mesencéfalo havia infiltrado perivascular de linfócitos, vacuolização da substância branca e vasos repletos de hemácias (congestão). Devido ao achados microscópicos, o tumor foi classificado como meningioma fibroso e foi a causa do óbito do animal.

Imagem 1: canino, encéfalo, nódulo rugoso no lobo piriforme direito. 

Imagem 2: canino, encéfalo, nódulo rugoso no lobo piriforme direito.

Imagem 3: canino, encéfalo, meningioma fibroso apresentando fibroblastos em redemoinhos ao redor de vasos (setas), os fibroblastos com pleomorfismo moderado, apresentando núcleos variando de ovalado a fusiforme, eucromáticos com citoplasma fibrilar e levemente eosinofílico. Coloração: HE; Objetiva: 10x.

Imagem 4: canino, encéfalo, fibroblastos com pleomorfismo moderado, apresentando núcleos variando de ovalado a fusiforme, eucromáticos com citoplasma fibrilar e levemente eosinofílico. Coloração: HE; Objetiva: 40x.

  1. Conclusões

Infere-se que, o animal veio a óbito devido ao meningioma fibroso. Foi possível realizar o diagnóstico através da histopatologia, demonstrando a importância da necropsia  com o propósito de descobrir a causa mortis e também, para gerar materiais de estudo, visto que é uma doença pouco descrita na literatura. 

 

Referências Bibliográficas:

MARCASSO, Rogério A. et al. Meningiomas em cães: aspectos clínicos, histopatológicos e imuno-histoquímicos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 35, p. 844-852, 2015.

CHAVES, Rafael Oliveira et al. Meningioma encefálico em cães. Acta Scientiae Veterinariae, v. 44, p. 1-5, 2016.

PEREIRA, Lourival Barros de Sousa Brito et al. Meningioma canino: Relato de caso. Medicina Veterinária e Zootecnia, 2017.

DINIZ, Sylvia de Almeida. Neoplasias intracranianas em cães: uma abordagem diagnóstica. 2007. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

CONTI, Jorge Piovesan et al. Tratamento cirúrgico de um caso de meningioma cortical frontal em cão: relato de caso. Veterinária e Zootecnia, p. 490-496, 2010.